No dia 27 de outubro 2022, a EMCC Portugal promoveu um encontro intitulado O Poder do Mentoring e, como Mentores que somos, optámos por não dinamizar o típico encontro em que os participantes estão sentados a escutar oradores que debitam a sua imensa sabedoria sobre a audiência a qual, por momentos, é autorizada a colocar questões.

Assim, a discussão foi participada por todos, rica e envolvente, graças à utilização da metodologia World Café, dando a oportunidade a todos os participantes de rodarem pelas cinco mesas, cada uma das quais dedicada a uma pergunta chave relacionada com o tema do Encontro, através de uma das atividades mais nobre em Mentoring: a cocriação.

Este foi um encontro de partilha de anseios, dúvidas, conhecimento, co aprendizagem e cocriação, que permitiu a cada um dos presentes enriquecer-se graças a um leque de experiências e perspetivas diversas.

Foi extraordinário observar a entrega espontânea de todos os presentes, a forma como todos participaram escutando ativamente as ideias dos outros, trazendo curiosidade positiva e criatividade. Muitas vezes, a partir de uma ideia surgiu outra ideia e tantas e belas ideias foram geradas com o contributo de cada indivíduo e do coletivo. Em parceria, desenhámos a essência do que foi ali verbalizado e cocriado.

Cada mesa teve um embaixador responsável pelo enquadramento sucessivo dos participantes no respetivo tema em cada ronda do World Café, bem como pela apresentação do trabalho realizado ao plenário, no final do evento.

O ambiente informal, o espaço seguro e de confiança que se construiu permitiu responder de forma criativa e estruturada às cinco perguntas chave, cujo resultado da cocriação apresentamos de seguida.

 

Como é que o Mentor se mantém up to date?

Hoje é o dia mais lento do futuro. Sim, a mudança está em aceleração.

Assim, talvez a questão possa ser “Como é que o Mentor se mantém up to now?” em vez de “Como é que o Mentor se mantém up to date?”

A atualização do Mentor é um continuum, sendo relevante investir, continuamente, na sua aprendizagem e no seu desenvolvimento. Humildade, vulnerabilidade e consistência caminham de mãos dadas com o Mentor na sua jornada de atualização.

O Mentor deve ter uma mentalidade aberta e demonstrá-lo. A noção de ser modelo e de ser capaz de walk the talk reforça a sua credibilidade como Mentor.

O Mentor necessita de investir proativamente no seu desenvolvimento, concebendo momentos para parar, expandir, focar e agir.

O tamanho do mundo do Mentor beneficia de se expandir através de experiências, de viagens, da arte, do contato com culturas e línguas diversas…

O Mentor deve investir na reflexão sobre a aprendizagem, na supervisão, ser objeto de Coaching e/ou Mentoring e sentir-se confortável com o desconhecido, alavancando na curiosidade positiva para catalisar a descoberta.

O Mentor deve ser capaz de esvaziar a taça, estar atento ao que precisa (mind the gap) e agarrar proativamente oportunidades para estimular o seu pensamento cognitivo e criativo.

Desenvolvemos a ideia da Roda do Mentor, em que o Mentor bebe de fontes diversas e está atento a várias dimensões: profissional, social, saúde e bem-estar, financeira, espiritual, familiar e rede de amigos. A partilha de conhecimento é permeável e, assim, a roda não é fechada.

A partilha entre pares é uma enorme oportunidade de co-aprendizagem que gostaríamos de cultivar.

O Mentor é flexível, capaz de se adaptar (sense & adapt) aos ambientes presencial e digital, à cultura, à situação e ao contexto particular. O Mentor é capaz de entender e respeitar o quadro de referências do Mentee.

O Mentor deve estar alerta para os riscos de enviesamento, incluindo filtros de escuta e de julgamento.

É importante que o Mentor desenvolva e consolide competências comportamentais transferíveis como a Empatia, Coaching Competencies, Gestão das emoções, Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI).

É, também, relevante estar atento às possibilidades em termos de ferramentas e ter o cuidado de as selecionar e utilizar de forma adequada (fit-for-purpose), colocando-as ao serviço do Mentee.

O Mentor, equipado de conhecimento relevante e de um conjunto de competências é, sem dúvida, a melhor ferramenta, pelo que é de enorme valor investir continuamente em si, estando consciente das suas luzes e das suas sombras.

Foi interessante gerar ideias, muitas e belas ideias! A curva apertada é a transformação das ideias em ações. Assim, é crítico que cada Mentor defina o seu plano de ação, com o que se compromete e quando, de forma a manter-se atualizado. Para tal, propõe-se que defina o investimento anual a fazer na sua aprendizagem e no seu desenvolvimento, bem como um conjunto de rituais a integrar no seu dia-a-dia.

Convida-se, também, cada Mentor a manter a sua SWOT atualizada com regularidade, entendendo o que é esta dinâmica e o quão importante é estar ciente dos seus próprios limites, bem como de saber dizer não.

 

Como promover o Des(envolvimento) e Autonomia do Mentee?

Desenvolver o Mentee

“Rodinhas para Pedalar”

Autonomia do Mentee

“Pedalar sozinho e equilibrado”

Dar Contexto e Questionar vs Aconselhar Promover a Liberdade
O Mentee tem todo o potencial Confiança, Bem-estar
Autoconhecimento (valores, estilos…) Gestão de Riscos  (estrada / BTT)
Definir Prioridades Desenvolver competências
Objetivos Tem recursos: potenciar (RVCC)
Resistência à Mudança: Assessment ADKAR (Awareness, Desire, Knowledge, Ability, Reinforcement) Influência Positiva: contágio, valor acrescentado individual e coletivo

 Outros tópicos explorados em resposta a esta questão:

  • O Processo de Mentoring que desenvolve e cria autonomia deve decorrer num clima seguro e de confiança, suportado pelo Código Global de Ética:
    • Início (ponto de partida) – Quem sou? Onde estou?
    • ObjetivoPara onde quero ir?
  • Desenvolvimento sustentado deve trabalhar: o Ser; o Tema; os Objetivos.
  • A tomada de consciência do Mentee face a novas oportunidades percorre diferentes etapas de desenvolvimento:
    • 1ª Fase – Incompetente e Inconsciente;
    • 2ª Fase – Incompetente e Consciente;
    • 3ª Fase – Competente e Consciente;
    • 4ª Fase – Competente, Inconsciente.

Reflexões finais:

  • O que tenho que deitar fora? O que não me serve?
  • Aceito estar desconfortável com o não saber?
  • Estou confortável com o não saber?
  • Estou desconfortável com o saber?
  • Mentores e Mentee devem gerar fruto e não apenas resultados!

 

Que tendências de evolução do Mentoring?

Iniciámos a viagem a refletir sobre o próprio título da nossa mesa. Eliminámos a palavra “tendência” para nos centrarmos na essência da palavra “evolução”.

Começámos por olhar para o Mentor, para a sua forma, para a sua existência, na sua plenitude.

Percebemos que o Mentor deverá agir em torno de um “todo” Emocional, Físico, Espiritual e Energético. E que deverá cuidar-se para garantir que a sua ferramenta mais poderosa, o cérebro, se encontra saudável para poder ser um Mentor são.

Explorámos o caminho da importância do Mentor se poder especializar (ou ter já essa experiência e/ou especialização) por área, setor ou segmento, para poder acrescentar mais valor nos seus processos de Mentoring.

Rapidamente percebemos que, para falar da Evolução do Mentoring, não poderíamos ficar apenas no lado do Mentor. Teríamos de olhar para o Mentee e também para o impacto e importância da existência do Mentoring. E assim fizemos.

Explorámos o facto de haver a necessidade de que o Ser Humano deveria ser exposto ao Mentoring numa fase muito mais jovem da sua vida. Não apenas para entender o seu potencial e a sua importância, mas também para desenvolver algumas competências e um mindset de Mentoria que poderá levar para a vida adulta.

Desenvolvemos pensamento sobre a importância do Mentor enquanto “entidade” potenciadora do desenvolvimento humano. Na escola e na vida, andamos muito centrados no desenvolvimento do conhecimento, das competências. Mas, para podermos ter mais “humanidade”, necessitamos que se desenvolva o “Ser”. O Ser na sua plenitude, enquanto Líder de Si mesmo, Líder de Outros, Líder do Sistema, para fazer avançar, evoluir, tornar melhor o ecossistema onde se encontra.

Por isso mesmo, também Declarámos que o Mentor é a “plaina” que lima, corta e alisa a “tábua” que é o sistema “tradicional” das hierarquias e das pirâmides de poderes. O Mentor tem a responsabilidade de fazer desaparecer essas barreiras e limitações, por forma a potenciar a existência total do “Ser” e das relações “inter-Ser”.

Por último, abordámos a necessidade da coexistência, coaprendizagem e coconstrução do triângulo Mentor – Mentee – Supervisor, para a permanente evolução do Mentor.

No debate desta questão houve um contínuo de construção e evolução sobre o tema que esteve a ser discutido e explorado. Cada grupo que chegava criava em cima do que já estava previamente construído, como se todos os participantes tivessem estado, ao mesmo tempo, a realizar a coconstrução. Foi uma poderosa viagem de co-indeferida-criação. Esta energia que nos une enquanto Mentores, a forma de distintamente estarmos focados no mesmo propósito, leva-nos a refletir sobre a importância de momentos como este que vivemos e a importância de estarmos ativos na construção deste papel do Mentoring Profissional, Sério e Rigoroso, para impactar as Mudanças necessárias no Ser Humano e na Sociedade.

 

Que Desafios e Oportunidades em Ambiente Digital?

Como Mentores, estamos preparados para os desafios e oportunidades do novo ambiente digital? Conseguimos entender a mudança que nos é exigida?

Depois de tantos Consultórios Digitais que a EMCC Portugal tem promovido, já era tempo de um evento presencial onde pudéssemos discutir abertamente o… digital, nomeadamente que oportunidades e desafios se nos colocam enquanto Mentores.

Como desafios foram identificados os seguintes:

  • A necessidade de dominar a tecnologia e de não sermos limitados pela mesma. Por isso, é necessário algum investimento em equipamento mas, o mais importante é melhorarmos as competências na utilização das tecnologias a que já temos acesso. Neste ponto foi reconhecido o contributo da iniciativa Consultório Digital da EMCC Portugal, a qual tem ajudado Mentores de ambos os lados do atlântico a utilizarem os meios digitais de forma mais eficaz.
  • O mercado tornou-se mais global e os Mentores têm de se adaptar a esta nova realidade que, por um lado, aumenta a competição e que, por outro, permite chegar a Mentees, independentemente da sua localização geográfica.
  • A produção de conteúdos atrativos que atraiam novos Mentees, de forma individual ou através de plataformas.
  • A volatilidade das plataformas que influencia o acesso dos Mentores ao mercado em cada momento.

Como oportunidades foram consideradas as seguintes:

  • A multiculturalidade de Mentores e Mentees, melhorando de parte a parte o pensamento lateral e a criatividade.
  • Ser mais eficaz perante pessoas que não se sentem tão à vontade com encontros presenciais ou com agendas complexas.
  • Inclusão de profissionais em processos de Mentoring os quais, por questões geográficas, de mobilidade ou de doença, a eles não poderiam ter acesso.

Independentemente da relação de mentoring ser presencial, online ou híbrida, o estabelecimento de uma relação de confiança entre Mentor e Mentee continua a ser a base do sucesso do processo, pelo que a tecnologia deve ser utilizada de forma personalizada e não padronizada.

Finalmente devemos olhar para utilização das tecnologias digitais sem limitações geracionais, fazendo o investimento necessário em equipamentos e competências que permitam superar os desafios e colher os benefícios das oportunidades.

 

Como manter e reforçar a reputação do Mentoring?

O contexto é de extrema complexidade, incertezas e volatilidade. O mentor proporciona ao mentor uma prática de aprendizagem baseada no acompanhamento, contribuindo assim para a qualidade e consequente reputação do mentoring. Sendo o Mentoring cada vez mais reconhecido como estratégia facilitadora do desenvolvimento em diversas áreas da vida e em diferentes contextos, considera-se fundamental reforçar a sua reputação.

A reputação foi definida como um conceito integrador de três dimensões críticas: Histórico; Factos e Competência. Sendo o Mentoring um processo com raízes milenares, tendo sabido acompanhar os tempos através do desenvolvimento de novos modelos, contribuindo assim para a sua perenidade e utilidade, considerou-se importante que Mentores, bem como as entidades que os formam e certificam, continuem a saber dar respostas adequadas às novas exigências e desafios do contexto.

O foco na aliança entre Mentor e Mentee, foi também referido como elemento promotor da reputação do processo.

Ao mesmo tempo que a notoriedade do Mentoring se difunde, crescendo o interesse das Organizações para a ele recorrerem, aumenta também exponencialmente o número de profissionais que decidem assumir o papel de Mentores.

A importância do recurso à Supervisão pelo Mentor foi bastante evidenciada, tendo-se descrito a Supervisão como espiral facilitadora do reconhecimento dos desafios que o Mentor enfrenta face à impermanência.

A autorregulação e o benchmarking foram também atitudes muito destacadas que o mentor deve assumir.

O efeito boomerang de aprendizagem que o Mentoring proporciona na relação Mentor/Mentee, foi referido como prática relevante para a afirmação dos benefícios do Mentoring.

A vocação para servir, foi considerada como uma skill fundamental para se ser Mentor.

Honestidade intelectual é um desafio ético que o Mentor deve assumir, como forma de ser e estar.

Ser Mentor deve ser assumido como proposta de VALOR para o Mentee.

Esclarecer o mercado sobre os benefícios do mentoring, bem como a partilha de casos de sucesso, deve ser assumido por toda a comunidade de Mentores.

Os Valores e Princípios mais destacados pelos participantes nesta mesa, como garantes da qualidade e da reputação do Mentoring, foram:

  • Confiança;
  • Responsabilidade Coletiva dos Mentores Profissionais;
  • Foco nas expectativas do Mentee;
  • Testemunhos de Mentees;
  • Qualidade do Processo;
  • Ética;
  • Compromisso.

Sensibilizar influenciadores e pensadores sobre a história, utilidade e novos modelos/formatos de Mentoring, são contributos importantes para o reforço contínuo da reputação do Mentoring.